Dia do Diretor: a gestão escolar para além dos resultados

12 de novembro de 2019 - 09:14 # # # #

Bruno Mota - Texto

Olhar humano, vocação para a liderança, compreensão de coletividade, capacidade para mediar conflitos, senso de responsabilidade, competência para a gestão e outras tantas aptidões. As habilidades necessárias a um diretor escolar não se resumem a conhecimentos técnicos, mas incluem talento, dedicação e altruísmo. É preciso saber unir interesses em prol de um objetivo comum, aprender a sonhar junto e sentir-se realizado pelo sucesso do outro.

A Secretaria da Educação (Seduc) reconhece o papel fundamental destes atores para o processo de formação de seres humanos e, neste dia 12 de novembro, parabeniza a todos os diretores das escolas da rede pública estadual cearense.

Dedicamos este espaço para contar histórias de alguns destes personagens, que hoje se encontram na condição de dirigentes de unidades de ensino de modalidades diversas. Nosso intuito é de que todos os 728 gestores da rede sintam-se representados e prestigiados nesta ocasião, cientes do valor que têm perante a Secretaria e a sociedade.

Yuri Harlen Vasconcelos é diretor do Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja) Monsenhor Hélio Campos, em Fortaleza, há 6 anos

Considero que a principal missão do gestor escolar seja tornar as pessoas mais felizes e mais entusiasmadas pela vida. Tratando-se do direcionamento de uma escola de educação de jovens adultos, devemos ter sabedoria e desenvoltura para a construção de um diálogo incessante com os estudantes, pois muitos abandonaram a escola por diversos motivos, e cabe a cada profissional do Ceja, em ênfase ao diretor, liderar o grupo para que acolha os alunos de forma diferenciada, a fim de que os mesmos sintam-se motivados e estimulados a continuar seus estudos e a concluir a educação básica.

Somente através do diálogo e das tomadas de decisões compartilhadas é que chamamos todos os atores envolvidos a tornarem-se corresponsáveis pelo trabalho educacional. É bastante desafiador trazer a comunidade para dentro da escola, mas acredito que este seja um grande passo para a construção de uma gestão mais democrática e participativa.

Quis ser diretor do Ceja por acreditar que a educação é o único caminho para termos uma sociedade mais humana, em que se possam romper os ciclos de pobreza e desigualdade entre os homens, sendo que a escola tem papel fundamental para que os jovens e adultos possam acreditar mais em si mesmos, e que estes tenham claro seu projeto de vida e lutem pelos seus sonhos.

Fábia Napoleão Andrade é diretora da Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Edson Queiroz, em Cascavel, há dez anos

Somos instrumento de transformação. Não na perspectiva de achar que a educação é a “salvadora da pátria”, utopicamente. Mas, temos que acreditar que o nosso empenho faz a diferença na vida de vários jovens. Precisamos mover todos os esforços para pensar ações voltadas aos que mais necessitam, gerando uma teia de acolhimento e ajuda mútua, de divisão de saberes.

Acredito que o maior desafio é pensar solidariedade de conhecimento num mundo que destaca os resultados individuais. E ensinar uma nova mentalidade, de cooperação.

Costumo dizer que essa é minha missão de vida. Tornei-me uma pessoa melhor depois que entrei para a gestão da escola. Liderar não é impor, dar ordens, ou mandar, e sim, mobilizar, engajar, envolver pessoas a se apaixonarem por uma causa. Aprendo muito com as histórias de vida, com as necessidades do outro. Sou muito feliz em poder contribuir para a vida desses jovens, seja através do acolhimento, da escuta, da reflexão e da quebra de preconceitos, seja através de toda a mobilização para que eles entrem na Universidade.

Francisco Erivando Barbosa de Sousa é gestor da Escola de Ensino Médio (EEM) do Campo Filha da Luta Patativa do Assaré, em Canindé, desde março de 2016

É possível apropriar-se de conhecimentos não meramente para acumular conteúdo ou para sair-se bem em provas ou exames. Esse conhecimento tem que servir para a vida, para transformar as pessoas e a realidade política, econômica, social, cultural e ambiental.

A partir desse entendimento, a missão de um gestor está para além de administrar uma estrutura física e recursos humanos, financeiros e materiais de uma escola. É preciso pensar estrategicamente os diferentes processos político-pedagógicos que envolvem a produção, reprodução e recriação dos saberes.

Embora não existam receitas prontas, há algumas atitudes fundamentais para qualquer gestor escolar. É preciso estudar. Nunca estamos totalmente prontos e é necessário ter essa atitude de buscar formação. Todo gestor tem que ter sensibilidade para ouvir, observar, analisar os diferentes processos, agir na coletividade. A gestão democrática é uma estratégia importantíssima para superar os desafios da gestão de uma escola.

As particularidades da escola do campo não estão apenas relacionadas ao espaço físico em que estão situadas, mas, ao seu propósito de contribuir para a compreensão da realidade do meio rural, visando à sua transformação. A população do campo, historicamente, teve o direito da educação escolar negado. E as escolas do campo representam a retomada desse direito.

Maria Geane Dias de Carvalho Menezes está há um ano e sete meses à frente da Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Gabriel Bezerra de Morais, em Farias Brito

Para ser gestora escolar é preciso querer. Tem que ter força de vontade e determinação, ser humana, saber ouvir. Tentar transformar a realidade e fazer a diferença na vida das pessoas, tanto funcionários, como professores e alunos.

Após menos de um ano de gestão, recebi o comunicado de que a escola passaria a ser de tempo integral. Comecei a estudar sobre essa modalidade, a me preparar, e isso foi me motivando. A dedicação tem que ser de corpo e alma. Procuro lidar com os desafios de forma democrática, dialogando e resolvendo da melhor forma possível, favorecendo a todos.

Acompanhando durante esse ano o desenvolvimento dos alunos no tempo integral, vejo o quanto essa proposta, de fato, transforma a eles e também a nós, enquanto seres humanos. Ver a diferença na vida das pessoas é o que mais me motiva a estar na direção da escola.

Maria Helena Gomes está à frente da Escola Indígena Raízes de Crateús, neste município, há 10 anos

A principal missão do gestor é estar presente na escola todos os dias, acompanhando de perto, de uma forma especial, os mais carentes e necessitados, acolhendo-os bem, cuidando da alimentação e do material didático. É, também, fazer visita às famílias em caso de falta dos alunos.

Superamos os desafios partilhando mais as tarefas entre o quadro da gestão, professores, serviços gerais, e a todos que compõem a escola.

A Escola Indígena tem uma especificidade, que é fortalecer a cultura enquanto povo. Além dos conteúdos regulares, temos que estar atentos ao inserimento dos alunos no ambiente familiar e escolar. Fizemos um processo de resgaste cultural através da história dos antepassados. Nós, enquanto descendentes, nos colocamos a serviço para fortalecer a história de nossa cultura.