Valorização docente: Seduc lança obras literárias e acadêmicas de professores da rede estadual

17 de dezembro de 2019 - 15:24

Bruno Mota - Texto
Carlos Gorila - Foto

A educação de qualidade tem relação direta com a valorização do educador, ator fundamental na construção do conhecimento junto ao estudante. Procurando seguir este princípio, o Governo do Ceará, por meio da Secretaria da Educação (Seduc), oferece meios para que os professores da rede pública estadual de ensino possam dar vazão às suas criações literárias e acadêmicas, investindo na publicação de obras escritas nestas duas modalidades, por meio de editais lançados anualmente.

Na última quinta-feira (12), como parte da programação do Seminário DoCEntes, foram apresentados os trabalhos vencedores do último processo seletivo, com cinco livros escritos por professores da rede estadual, sendo três de cunho acadêmico e dois literários.

A ação teve início em 2016 e desde então contemplou 20 autores, ao longo de quatro editais. Valorizar o protagonismo docente e promover uma rede de colaboração entre os professores, ao publicizar as produções com seus pares, são alguns dos objetivos da Seduc com esta iniciativa. A política é baseada no Projeto Professor Aprendiz, do Programa Aprender pra Valer.

O secretário executivo do Ensino Médio e Profissional, Rogers Mendes, avalia que existe grande potencial entre os profissionais da educação pública estadual. “Existem muitos professores desenvolvendo pesquisas e narrativas literárias. Esperamos que, cada vez mais, nossos educadores se sintam desafiados e incentivados a escrever, gerando novos saberes e compartilhando com a sociedade o fruto de seu empenho e criatividade”, ressalta.

Seleção

Os critérios definidos no edital para avaliação das produções literárias incluem originalidade de conteúdo e ineditismo, repertório linguístico, fruição estética, coerência e consistência do texto, além de potencial artístico.

O professor Luís Carlos Ribeiro, autor da obra “O hóspede e outros contos”, lembra que a ideia nasceu da necessidade de aperfeiçoar a escrita durante o mestrado em Educação. “Busquei participar de cursos de escrita criativa, na intenção de melhorar minha habilidade. Uma coisa ajudou a outra e comecei a escrever contos. A proposta do livro é bem filosófica, apresentar a vida na sua complexidade, à medida que vamos fazendo escolhas, e as consequências que têm na nossa vida. A proposta vai ao encontro de uma questão social presente: as pessoas estão cada vez mais focadas na escolha imediata, sem preocuparem-se com as consequências”, ressalta.

Luís Carlos considera que a experiência de ser selecionado pelo edital da Seduc tem gosto especial. “Esse é um marco muito importante para qualquer escritor e professor apaixonado pela literatura e pelo que faz. O processo de escrita nos ajuda a amadurecer a nossa própria prática pedagógica, a pensar novos formatos de contato com nossos estudantes. É um processo que nos faz criativos em todos os sentidos, sobretudo no que se refere a se perceber como sujeito em constante processo de desenvolvimento e aprendizagem”, conclui.

Avaliação

No que diz respeito aos parâmetros para a seleção dos trabalhos acadêmicos, levam-se em conta clareza e precisão de conteúdo, relevância e atualidade do tema, originalidade e qualidade metodológica.

A professora Marlúcia Nogueira, autora do livro “De paisagens e infâncias em Ondjaki ou uma poética dos anos 80”, resgata a memória do escritor angolano Ondjaki, que viveu a infância na Luanda dos anos 80, período da guerra civil pós-independência do país. A obra é resultado de tese de doutorado apresentada na Universidade Federal do Ceará (UFC).

“Analiso como é possível se viver uma infância lúdica e reconstruir uma narrativa lírica como a de Ondjaki a partir de lembranças de um tempo de medo e incertezas. Minha intenção ao buscar essa publicação é contribuir para a divulgação da literatura africana dos países de língua oficial portuguesa e para o reconhecimento dos laços fraternos que possuímos com esses países”, explica Marlúcia.

A professora relata que o trabalho de pesquisa durou quatro anos. “Muitos estudos de qualidade circulam apenas no ambiente acadêmico, que ainda não é acessível ao grande público, inclusive aos professores. O livro é uma das formas mais eficientes de se transmitir saberes e, numa época em que a tendência são as restrições de fomento ao saber científico e literário, a Seduc segue a direção contrária, estimulando a produção de conhecimento e a criatividade de seus educadores. É fundamental que os professores da rede pública estadual que tenham produções escritas participem dos editais, pois, além de ser uma realização pessoal, a publicação de uma obra reafirma o papel do professor como pensador, pesquisador e produtor de conhecimento”, incentiva.

As obras tanto literárias como acadêmicas são analisadas por conselhos editoriais, com competência deliberativa para avaliar e selecionar os textos que serão publicados.

Trabalhos e autores vencedores do processo seletivo de 2019

Literários:

Paulo Cesar Ferreira Soares – Alguns Poemas

Luís Carlos Ribeiro Alves – O hóspede e outros contos

Acadêmicos:

Marlúcia Nogueira do Nascimento – De paisagens e infâncias em Ondjaki ou uma poética dos anos 80

Cícera Alves Agostinho de Sá – A língua portuguesa no ensino médio: dos documentos oficias à prática escolar

Caio Eder Santiago Lopes de Sousa – Os multiletramentos como motivadores da prática de leitura em sala de aula