Estudante supera paralisia cerebral e consegue aprovação na UFC

4 de fevereiro de 2020 - 08:58

Bruno Mota - Texto

As questões sociais e políticas do Brasil e do mundo interessam sensivelmente a Gabriel Victor de Paiva Falcão, que alimenta o sonho de ser “pensador da sociedade” e professor, como ele próprio define. Por isso, sentiu-se atraído a cursar Filosofia no Ensino Superior. Aprovado no Sistema de Seleção Unificada (SiSU) após realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2019, o estudante conta os dias para iniciar as aulas na Universidade Federal do Ceará (UFC).

Gabriel nasceu com paralisia cerebral do tipo diplégica espástica, após 31 semanas de gestação, tendo passado os primeiros 40 dias de vida em uma UTI hospitalar. Hoje tem 18 anos, é paratleta e ex-aluno da Escola de Ensino Médio (EEM) Santo Amaro, localizada no bairro Bom Jardim, em Fortaleza.

A condição afetou os movimentos dos membros inferiores do jovem, que dos três aos oito anos de idade só conseguia andar nas pontas dos pés, o que o deixava propenso a quedas e lesões, segundo conta. Desta forma, a rotina da infância foi marcada por visitas a unidades de saúde, com acompanhamento de fisioterapeutas, neurologistas, pediatras, ortopedistas, oftalmologistas, entre outros profissionais. A utilização de órteses foi o principal recurso durante anos, na tentativa de fazer com que as pisadas ocorressem de forma mais firme.

Contudo, a melhoria mais significativa só foi possível após a realização de uma cirurgia, de acordo com Gabriel. “Depois de alguns exames fiz o procedimento, que consistia em cortar o tendão da minha perna e alongá-lo, para que eu pudesse esticar os pés e alcançar o chão. Em seguida, passei alguns meses utilizando gesso. Quando comecei a andar, os médicos constataram que ainda havia uma lesão nas minhas pernas. Tanto que até hoje ando mancando. Mas, melhorou muito”, explica.

Esporte

Além da inclinação para as áreas do pensamento humano, Gabriel também vem demonstrando talento na natação, já tendo participado de diversas competições dentro e fora do Ceará, incluindo atuações em São Paulo, Paraíba, Sergipe e Pernambuco. A vocação para o esporte foi descoberta aos 11 anos.

“Uma procuradora do Estado estava realizando um projeto social, que selecionava crianças de 8 a 11 anos para seguir a vida de atleta, e pediu indicações à coordenadora do setor de Fisioterapia do Hospital Sarah, onde eu fazia tratamento. Então, ela lembrou de mim e de minha mãe”, esclarece. Daí em diante, os treinamentos começaram e as conquistas foram surgindo. Hoje o jovem conta 86 medalhas, sendo 35 de ouro, 28 de prata e 23 de bronze. E a preparação continua.

Apoio

A boa acolhida na escola durante o período do Ensino Médio foi decisiva, na visão do jovem, para que conseguisse alcançar seus objetivos. “Gostei bastante de lá. A 1ª série foi muito marcante, os alunos foram muito receptivos, se ofereceram para me ajudar, assim como os coordenadores e professores. Todos muito atenciosos comigo e com a minha mãe. A escola tem uma área que eu costumava ficar com meus amigos. Era muito divertido ficar por lá”, relembra.

Como matérias favoritas, Gabriel cita Filosofia, Língua Portuguesa e Redação, confirmando a vocação para a faculdade que escolheu cursar.