Estudante de Quixeramobim realiza sonho de infância ao conquistar vaga no curso de Arquitetura e Urbanismo

18 de fevereiro de 2020 - 16:42

Bruno Mota - Texto

Quando tinha oito anos, Mateus Vitor Oliveira viu a mãe desenhar o projeto de uma casa que estava prestes a construir. Achando interessante aquela ilustração, ele manifestou vontade de fazer algo parecido e então a mãe lhe deu as coordenadas necessárias, indicando o que deveria ter na residência. Aquela experiência de planejar um imóvel foi tão representativa ao garoto, que despertou nele um sonho de profissão. Durante o Ensino Médio, Mateus estudou na Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Dr. José Alves da Silveira, em Quixeramobim, e ali fez o curso técnico em Edificações. Foi a vivência de que precisava para ter a certeza do ofício que queria seguir. Hoje, aos 18, o jovem ingressa na faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC).

A afinidade do estudante pela área é tanta, que a aprendizagem dos conteúdos na escola era encarada como diversão, segundo conta. “No Ensino Médio eu virava noites desenhando e não sentia cansaço, porque estava fazendo algo de que gostava. Me identifiquei muito com a parte de projeto arquitetônico, de representação gráfica”, lembra.

Durante a educação básica, Mateus também acompanhava com satisfação especial as disciplinas de história, redação, matemática e geografia. Todas por alguma razão específica. “Quando participei da OBMEP (Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas), fiquei atraído pelos cálculos. Ao estudar história, estava conhecendo a mim mesmo e ao meu passado. A partir da geografia, conheci a geopolítica e construí o meu caráter político, que defende o estado de bem-estar social e a democracia. Pela redação, transformo o meu pensamento em texto e posso expor todas as minhas referências e argumentações”, salienta.

Direcionamento

Sintetizando o gosto por todas essas áreas do conhecimento, Mateus já tinha noção clara da área que desejava seguir na profissão antes mesmo de entrar na faculdade: patrimônio histórico edificado. Ainda na escola, ele havia desenvolvido o projeto “Harqui”, sigla que significa Arquitetura Histórica de Quixeramobim, junto com duas colegas e a coordenadora do curso de Edificações. A iniciativa, de acordo com o estudante, tinha o objetivo de democratizar o acesso ao conhecimento histórico do município, por meio de seminários, exposições e palestras realizadas na própria escola e em outras unidades de ensino, contando também com a participação de profissionais da arquitetura.

Veja mais sobre a ação Harqui

“Pretendo fazer projetos e continuar pesquisando em relação à arquitetura histórica na minha cidade, para trazer algum benefício a ela”, observa.

Apesar de não ter tido referências próximas de pessoas que deram sequência aos estudos após a conclusão do Ensino Médio – Mateus foi um dos poucos da família a terminar esta etapa na faixa etária correta e o primeiro a ingressar na universidade – disposição para perseguir os ideais nunca faltou ao estudante.

Assim, além de se preparar para o Enem e de participar das atividades em tempo integral na escola, ele desenvolveu conhecimentos nas línguas inglesa e espanhola, de forma quase autodidata. “Comecei a cogitar a possibilidade de fazer intercâmbio ou mestrado em algum país europeu. E o conhecimento de outro idioma seria uma porta de entrada. Sempre fui muito de planejar os meus próximos passos, vendo minha vida daqui a 5 ou 10 anos”, explica.

Adaptação

Para poder frequentar o curso de Arquitetura e Urbanismo, Mateus precisou vir morar na capital cearense. A fim de custear as despesas na nova cidade, passou a trabalhar como recepcionista em um hostel, durante três dias na semana, com jornada de oito horas diárias. “Foi difícil no começo, pois não conhecia nada de Fortaleza”, considera. “Mas, o desejo de sair da zona de conforto foi maior do que os desafios que tive de enfrentar. Podia ter escolhido caminhos mais fáceis e me desculpar, para evitar uma frustração, mas usei as ferramentas que tinha e consegui chegar ao meu objetivo”, frisa.

A boa relação com os professores na escola e o interesse em aprender sempre mais são fatores apontados por Mateus para que tenha conseguido se sobressair. “Se eu não tivesse tido a oportunidade que tive, talvez não tivesse chegado onde estou. Sempre gostei do ambiente de aprendizagem. A escola me proporcionou acesso ao conhecimento de uma forma dinâmica e tentei extrair o máximo que pude dos recursos que me foram dados”, conclui.