Consciência Negra: autodeclaração étnica e políticas afirmativas são tema de webinar

20 de novembro de 2020 - 18:04

Encerrando a programação da Semana da Consciência Negra 2020, a Secretaria da Educação (Seduc) promoveu, nesta sexta-feira (20), a webinar “Se eu não sou negra(o) o que eu sou?”, abordando as questões da autodeclaração étnica e das políticas afirmativas no âmbito do ensino e da aprendizagem. Desde a última terça (17), uma série de atividades foi promovida com o intuito de fortalecer a construção de uma educação antirracista, por meio do compartilhamento de ideias entre os participantes e o desenvolvimento de estratégias em resposta a desafios comuns no ambiente escolar.

O evento de encerramento foi transmitido pelo canal da Coordenadoria de Formação Docente e Educação a Distância da Seduc (Coded/CED) no Youtube e contou com as participações dos professores Ícaro Amorim (Equipe de Educação para Pessoas Privadas de Liberdade da Codin/Seduc), Ana Paula Santos (Universidade Regional do Cariri – Urca) e Vera Rodrigues (Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira – Unilab), que são pesquisadores da área de Educação para as Relações Étnico-Raciais. O encontro foi mediado pelo secretário executivo do Ensino Médio e Profissional da Seduc, Rogers Mendes.

Vera Rodrigues pontua que o silêncio diante de posturas racistas pode ser também encarado como uma forma de opressão. “A sociedade brasileira ainda precisa avançar muito. Não estamos acostumados a lidar com as nossas feridas históricas. A postura não-racista é apenas eximir-se de responsabilidades. É preciso ter um compromisso antirracista nos 365 dias do ano. Acredito cada vez mais na luta necessária a ser feita. Se um grupo racial hegemônico não está disposto sequer a discutir seus privilégios, não estará disposto a abrir mão deles”, considera.

Reorganização social

Ana Paula dos Santos avalia que o momento histórico atual é de reconstrução da identidade negra. “Nem todos nós temos consciência da nossa racialidade. Para mim, é muito recente afirmar-me negra e ter como referência outras mulheres negras. Passei a minha infância, adolescência e parte da vida adulta negando a mim mesma, em uma prisão sem grades, admirando o colonizador. Somos todos humanos, mas, nem todos vivemos a plenitude de nossa humanidade. Não tem como pensarmos em uma educação antirracista se não pensarmos na reorganização da estrutura da sociedade e dos sistemas de educação. Não se pode atribuir essa responsabilidade apenas aos professores e não podemos só falar de nós para nós mesmos. Esse combate ao racismo se materializa de forma mais sistêmica, em um nível maior, com base numa visão ampla”, enfatiza.

Ícaro Amorim enaltece a política de fortalecimento da causa antirracista em nível da educação pública estadual, com a existência de uma equipe para tratar do tema na Seduc, e defende a formação contínua de educadores. “São muitas demandas e quanto mais pessoas para pensar, conceber formações e fazer articulações com os movimentos sociais, melhor. Acredito muito na possibilidade e nos efeitos positivos da formação de professores. É uma ação que pode ser fortalecida de maneira contínua para que possamos iniciar os debates e consolidá-los. Precisamos trazer as pessoas para esta compreensão, com boa vontade. Para fazer as coisas funcionarem, é necessário diálogo e entendimento mútuo”, conclui.

Continuidade

Rogers Mendes lembra que o grande possível legado do Seminário seja a abertura de uma discussão permanente a respeito desta pauta. “Hoje, 20 de novembro, é dia de Zumbi dos Palmares e Dia da Consciência Negra. É o momento em que todo o Brasil precisa refletir sobre todas as políticas de inclusão da população negra. A escola é o grande locus para a realização desse debate. Momentos como este são fundamentais na legitimação de práticas antirracistas de nossos educadores.