TJCE e Seduc firmam parceria de concurso que usa arte contra a violência de gênero

18 de junho de 2025 - 18:33

Assessoria de Comunicação do TJCE - Texto e fotos

O Tribunal de Justiça do Ceará (TJCE), por meio da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar, e a Secretaria de Educação do Estado (Seduc) firmaram acordo de cooperação técnica para a continuidade do projeto “Arte para Transformar: Cada Traço, um Gesto de Respeito às Mulheres”. A solenidade ocorreu, nesta quarta-feira (18/06), na sede do Poder Judiciário, oportunidade em que foi divulgado o resultado do concurso de pintura sobre respeito à mulher e igualdade de gênero, primeira ação viabilizada pela parceria.

“Nós precisamos trabalhar esses adolescentes e as crianças para praticarem o bem. E, no futuro, se assim nos for permitido, que nós não precisemos mais falar de violência contra a mulher, não precisemos mais punir ou, pelo menos, possamos mitigar essa violência. Então, esse é o objetivo: despertar nesta geração a importância do respeito à vida humana. Se todos tivermos respeito pela vida humana, não haverá espaço para violência doméstica e para violência contra a mulher”, destacou a desembargadora Vanja Fontenele Pontes, que está à frente da Coordenadoria da Mulher do TJCE, durante a abertura da solenidade, momento em que pediu uma salva de palmas às professoras e aos professores, bem como às alunas e aos alunos que participaram da etapa inicial do projeto, que consistiu em pinturas temáticas feitas em caixas de pizza. “Se nós conseguimos esse objetivo foi porque vocês, alunos e professores, tiveram a dedicação necessária”, acrescentou.

A secretária de Educação do Ceará, Eliana Estrela, comemorou a assinatura do termo de cooperação com o Judiciário. “Eu fico feliz em estar chegando realmente aonde tem que chegar, que é no chão da sala de aula. Nas escolas nós temos muitos talentos e, claro, muitos sentimentos porque é onde nós reunimos vidas, reunimos sonhos, e esses sonhos a gente precisa também entender um pouco como é que eles se passam. Essa defesa dos direitos das mulheres tem sido tema cotidiano nas nossas escolas e esse trabalho envolvendo a arte permite que eles possam se expressar de uma forma ainda melhor”. Inicialmente, foram envolvidas as escolas de ensino médio Doutor César Cals, Estado do Paraná e Matias Beck, localizadas em Fortaleza.

Para o presidente do TJCE, desembargador Heráclito Vieira de Sousa Neto, que tem o enfrentamento à violência contra a mulher como um dos eixos da Gestão, não é utopia acreditar que é possível construir uma sociedade mais pacífica. “Claro que a gente não pode mudar da forma que a gente quer, na velocidade que a gente quer, na profundidade que a gente quer. Mas eu acho que esse evento que está acontecendo aqui, com a presença das alunas e dos alunos, das professoras e dos professores, e de pessoas que representam entidades que normalmente não estão presentes aqui no nosso dia a dia, já demonstra que a gente pode mudar a realidade”.

O aluno Jade Camelo e Silva, da Escola Estado do Paraná, representou os 23 estudantes que participaram da iniciativa e convidou o público a refletir sobre cada traço pintado, ao mesmo tempo que estimulou os colegas a continuarem se expressando através dos desenhos. “A arte é o meio de você mostrar a vibração e a ardência do seu coração ao povo. E as mãos, a mente, todo o nosso corpo, em si, se torna um instrumento para demonstrar essa ardência e a inspiração que a gente tem no nosso coração. Então, eu digo a todos os meus companheiros e estudantes, que são artistas que estão aqui, que não desanimem de mostrar a inspiração que têm dentro do coração de vocês e que vão avante porque essa juventude inspirada é o que pode salvar e trazer o amanhã iluminado pelos corações artísticos que estão aqui e que estão pelo mundo.”

Além de Jade, os alunos Wanderson Ribeiro Moreira e Ariel Teixeira Rodrigues da Silva, a professora Annelise Maymone e o professor Ediberto Silva do Nascimento, e as diretoras Ana Cristina Costa e Virgínia Vilagran Pinheiro receberam certificado do TJCE em nome das pessoas envolvidas no projeto “Arte para Transformar: Cada Traço, um Gesto de Respeito às Mulheres”. Em seguida, foram anunciados os três primeiros colocados de cada escola participante e houve a abertura da exposição, que poderá ser visitada nas próximas duas semanas no hall do 2º andar da sede do TJCE e depois será levada a outros espaços.

Entre as autoridades presentes estava a desembargadora Silvia Soares de Sá Nóbrega, integrante da Coordenadoria Estadual da Mulher, e as juízas Rosa Mendonça (titular da 1º Juizado da Mulher de Fortaleza) e Teresa Germana Lopes de Azevedo (titular do 2º Juizado da Mulher de Fortaleza), além de servidoras que trabalham nessas unidades. A secretária de Turismo de Fortaleza, Denise Carrá, também esteve presente.

O evento ainda foi prestigiado por representantes de instituições que têm atuado em parceria com o TJCE nas ações de enfrentamento à violência doméstica e familiar contra a mulher, como o Ministério Público e a Defensoria Pública do Estado; as empresas Fraport e Socicam, que administram o aeroporto e a rodoviária de Fortaleza, respectivamente; a Universidade de Fortaleza (Unifor); Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec); Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Fortaleza; Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH); Sindicato das Empresas Organizadoras de Eventos e Afins do Estado do Ceará (Sindieventos); Associação Brasileira de Agências de Viagens do Ceará (ABAV-CE); Sindicato dos Taxistas do Ceará (Sinditaxi-CE); e a Associação dos Municípios do Estado do Ceará (Aprece).

Isadora Arraes de Araújo Beviláqua Sales ficou surpresa ao ser anunciada como primeira colocada entre os estudantes da Escola Doutor César Cals, no bairro Farias Brito, e não escondeu a felicidade. “Foi algo novo, eu nunca tinha participado de um projeto assim sobre a mulher. Tantas mulheres que sofrem no dia a dia e não têm essa visibilidade. E, com esse projeto, outras pessoas que não têm essa noção do que se passa, podem notar.”

A adolescente, que cursa o 3º Ano do Ensino Médio, falou sobre a ideia da obra. “Eu gosto muito de desenhar e eu achei muito legal da minha arte, se chama ‘Eco da Resistência Feminina’. Eu fiz uma guerreira que representa as mulheres que tentam lutar contra essa violência, tanto que o fundo é vermelho para simbolizar o sangue das mulheres que se foram justamente por causa da violência contra a mulher. Eu não tinha esse pensamento que eu ia ficar em primeiro lugar. Estou muito feliz!”, celebrou Isadora. O segundo colocado foi o aluno João Guilherme Oliveira Guerreira, enquanto Alycia Marcela Baia da Rocha recebeu a terceira colocação.

Já a aluna Maria Clara Silva da Luz, do 2º Ano, foi a primeira colocada da Escola Matias Beck, localizada no bairro Vicente Pinzón, e contou como foi o processo criativo da pintura. “Eu queria expressar que a violência contra as mulheres não é só física, ela também pode ser o cansaço mental, a estética, as redes sociais e as supostas obrigações, que é cuidar do lar, que são impostas sobre ela”, disse, ressaltando a importância de usar a arte para promover essa reflexão. Também foram reconhecidas as pinturas de Fábio Yzael Barros de Souza e Sabrina Dantas Monteiro, que ocuparam, respectivamente, a segunda e a terceira posição.

Entre as alunas e os alunos da Escola Estado do Paraná, no bairro Bom Futuro, Tarcyla Vasconcelos Martins, do 3º Ano, recebeu a melhor classificação da comissão avaliadora. ”Estou bem nervosa até agora, sem acreditar que eu ganhei o primeiro lugar, porque eu não sei tanto usar tinta, eu sou mais da caneta mesmo, lápis, mas, ainda assim, consegui. E a inspiração eu tirei da mente mesmo, sabe? É uma obra, assim, de um banheiro e a menina se prendendo dentro do banheiro para não alcançarem ela. E ela denunciando e cartazes na parede, mostrando o número para denunciar”, explicou, salientando a necessidade dessa reflexão no ambiente escolar para evitar que mais mulheres sejam vítimas de violência. “Quanto mais novo ensinar, melhor”, finalizou. A aluna Maria Paula Brito da Costa foi a segunda colocada, enquanto o aluno Wagner Wendel da Silva Melo figurou em terceiro lugar.

A diretora da Escola Matias Beck, Virgínia Vilagran, de onde saíram 10 dos 23 finalistas, enalteceu a participação de cada estudante. “Eu fico muito feliz por ver uma juventude sensível, porque me conforta muito esse sentimento de não ter uma juventude engessada e me conforta eu ter futuros profissionais menos violentos. Porque dentro dos 10 nós tivemos quatro homens fazendo produções artísticas e isso pra mim é muito significativo, que não serão multiplicadores de violência. São 10 famílias, são 10 multiplicadores, são 10 entornos, porque eu tenho os vizinhos do lado direito, do lado esquerdo, da frente e o de trás. São 10 amigos, então eu acho que é uma semente que está sendo plantada.”

O projeto “Arte para Transformar: Cada Traço, um Gesto de Respeito às Mulheres” terá seguimento no próximo mês de agosto, quando as alunas e os alunos participarão de um concurso de redação, um estímulo à literatura. A terceira fase, prevista para outubro, terá como foco a produção musical. Inicialmente, as ações serão desenvolvidas nessas três escolas públicas estaduais localizadas em Fortaleza, mas a ideia é expandir para outras instituições da Capital e do Interior do Ceará.